A edição 2022 do Encontro ANPR Mulheres começou nesta terça-feira (30) e promoveu o painel “Mulheres em espaços decisórios e de poder: perspectiva de gênero e raça”. O evento se estende até esta quarta-feira (31), em Brasília-DF.
Na primeira parte, houve o compartilhamento de experiências entre os membros do Ministério Público Federal (MPF) e a iniciativa privada no que diz respeito aos problemas e ações afirmativas a serem adotadas para assegurar espaços com condições iguais para homens e mulheres.
A diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, apresentou dados que espelham as diferenças de gênero no mercado de trabalho – setor público e privado. Ao lado disso, ela enumerou iniciativas da empresa onde atua que têm mudado a realidade das colaboradoras. Além disso, como integrante de comitês e conselhos, lamentou a tímida presença feminina em cadeiras de poder.
“Cadê as mulheres, as pessoas negras, as indígenas, enfim, os grupos que, normalmente, não estão incluídos nos conselhos, que são os órgãos de decisão? Enquanto os órgãos de decisão tiverem o mesmo padrão, as coisas não vão mudar. Meu foco nesses conselhos é a diversidade”, opinou.
A segunda convidada foi a advogada e assessora do Núcleo de Inclusão e Diversidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Samara Pataxó, que expôs a trajetória de vida de quem saiu da aldeia e, hoje, integra o sistema de Justiça.
“Antes de ser qualquer coisa eu sou uma mulher de origem indígena. O que me faz ocupar esse lugar de pertencimento é a minha origem. Antes de ser a Samara divulgada eu vim do chão da aldeia. Eu estudei numa escola indígena, diferenciada. É importante a gente pensar nessa questão de mais mulheres nos espaços de poder, que além da questão de gênero estejamos atentos também à questão racial, mais mulheres negras, indígenas, quilombolas, de diversas origens. Essa diversidade fortalece as instituições”, afirmou.
A procuradora do Trabalho, Juliana de Oliveira Góis, enfatizou a necessidade de incluir a questão racial no debate sobre diferenças de gênero, visto que as mulheres negras são ainda mais vítimas da exclusão e do preconceito. E destacou que sentiu isso na pele.
“Questionada sobre o meu cabelo eu respondi que se eu fizesse Ciências Sociais eu deixaria ele black. Se eu fizesse Direito eu iria alisar. Na minha cabeça e na de muita gente da sociedade o cabelo liso combina com os ambientes de Direito e o cabelo black não combinaria. Eu cursei as duas faculdades. Na minha prova oral eu estava de escova e só na pandemia eu passei pela transição”, contou.
Outra debatedora foi a advogada Myla Christie, e também aluna do Projeto Identidade, iniciativa da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), da Fundação Pedro Jorge e da Educafro para fomentar a participação de mulheres na carreira.
“Um dos pontos que eu acho importante são os encontros de cidadania em que é ensinado para os alunos o contexto em que a gente está inserido de luta constante, de busca pelo reconhecimento e de procura por nosso lugar” destacou.
A procuradora da República Nathália Mariel mediou o painel e avaliou o encontro como um passo importante para mudança de realidade.
“É muito importante compartilhar experiências com a iniciativa privada, com pessoas que ingressaram em cotas no âmbito do MPT, com o pessoal que está estudando para concurso. É importante essa temática das políticas afirmativas ir aflorando para a gente conquistar mais espaços plurais, ter mais mulheres nas audiências, nas reuniões, nos eventos oficiais, mais mulheres negras. Isso garante uma pluralidade, um olhar diferenciado para que a prestação jurisdicional seja mais efetiva e justa”, finalizou.
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