A Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) realizou na noite desta quinta-feira (9), dentro da série de debates “Caminhos para o MPF: Uma agenda com a sociedade”, o encontro “Corrupção e desigualdade no Brasil: um olhar necessário".
Participaram os procuradores da República Leandro Figueiredo e Renata Baptista; e a jornalista da Revista Piauí Thais Bilenky. O mediador foi o procurador da República Stanley Valeriano da Silva.
O procurador da República e mediador do debate, Stanley Valeriano da Silva, fez uma provocação aos participantes ao indagar que é preciso pensar que modelo de Estado queremos e que modelo de Estado é possível termos no Brasil, diante da nossa realidade. “É preciso entendermos que a corrupção não se resolve com a retirada do Estado. Ele é o principal promotor das políticas públicas. E quando o Estado se retira, justamente os que mais precisam são os que não têm acesso aos recursos públicos”.
Para o procurador da República Leandro Figueiredo, é preciso discutir não a corrupção afetando o crescimento econômico, em uma visão tradicional, mas como ela afeta na questão da desigualdade. “Devemos focar em um aspecto muito caro ao nosso país, que é como a corrupção influi na desigualdade do país, fundamentalmente minando por dentro, como um vírus, as políticas públicas. Qualquer política pública que venha combater a concentração de renda e a desigualdade, acaba sendo minada pela corrupção”.
A procuradora da República Renata Baptista questionou qual é o paralelo que se faz ao combate à corrupção? “A ideia do combate à corrupção como a criminalização da política não é suficiente para oferecer respostas. Diversas operações de enfrentamento aos crimes contra a administração pública têm demonstrado que, de fato, existe um problema sistêmico que precisa ser debatido com uma certa seriedade. Esses paralelos de que o uso de expressões que evocam o comportamento belicoso e a lógica de que é possível deixar de lado determinadas regras orientadoras de comportamento em prol de um bem maior no cenário de guerra, cruzada contra às drogas, combate à corrupção são muito evidentes quando vemos o que esse tipo de discurso gerou em outras situações”.
Para a jornalista Thais Bilenky, há um grande caminho a ser percorrido no que diz respeito ao combate à corrupção no país, sobretudo no que se refere a rastrear a distribuição de verbas para emendas parlamentares, citando o exemplo do Maranhão. “A população não tem saneamento básico, nem saúde. É um local onde a arrecadação depende quase que exclusivamente dos repasses da União, via emendas parlamentares. É onde existem pessoas como o deputado federal Josimar de Maranhãozinho que fazem esse tipo de esquema, que deve se lançar candidato a governador. Me parece um exemplo pedagógico de que todas essas questões estão interligadas. Ao mesmo tempo que o tratamento que a imprensa dá a esse tipo de corrupção nem sempre deixa claro os graves crimes contra a administração pública e seus efeitos na qualidade de vida da população. São relações muito pouco abordadas”.
Confira o evento na íntegra:
https://www.youtube.com/watch?v=FgrlnXD3TrI