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Diretoras da ANPR revelam lutas das mulheres no MPF

Conhecidas pela excelência nos trabalhos que desempenham no Ministério Público Federal e na Associação, as diretoras da ANPR fizeram relatos inspiradores de suas lutas diárias como procuradoras da República e analisaram o papel da mulher na sociedade. O objetivo foi homenagear e inspirar as colegas da carreira, no Dia Internacional da Mulher, para que elas recebam o devido reconhecimento e se fortaleçam dentro de uma instituição que tem como um de seus pilares a defesa dos direitos humanos. Confira: 

Anamara Osório (Diretora Financeira): No começo da carreira, eu usava um par de óculos que talvez nem precisasse e falava de forma mais ríspida, quase autoritária, porque – equivocadamente – pensava que só assim seria respeitada nos grandes fóruns. 

Com o tempo, fui observando meus colegas homens, queria ser natural como eles, sem perder minha condição feminina. Compreendi que poderia ser crítica, exigente, meiga, severa e tudo o mais que eu quisesse. Mais tarde, no início do exercício da chefia da PR/SP, cheguei a sentir alguns questionamentos no ar, curiosamente de amigas, pelo fato de ser chefe no estado de São Paulo e grávida, como se eu não fosse capaz de desempenhar uma dessas funções com 100% de mim. 

É duro admitir, muitas de nossas exigências surgem entre nós mesmas, mais do que advindas dos homens. Deveríamos não nos exigir tanto, sermos as primeiras a não nos julgarmos por aparência, para dar o exemplo. Podemos construir um convívio sem estereótipos femininos, evitar comentários do tipo, ela é autoritária só porque é exigente e severa; é histérica só porque fala rispidamente; não deixa os outros falarem só porque tem opinião forte; não tem vida pessoal, por isso vive para o trabalho; é condescendente demais só porque é meiga. 

Ela é ela e precisa ser avaliada apenas por sua competência. Se nos apoiarmos e tivermos homens que nos apoiam, uma instituição que nos apoia, podemos ser várias, sem esses esteriótipos, podemos ser técnicas, operacionais, políticas, estrategistas e naturalmente femininas. No MPF sinto que posso ser várias Anamaras.

Caroline Maciel (Diretora-Secretária): Hoje é dia de comemoramos importantes avanços sociais, mas a verdade é que precisamos ainda de muito esforço e dedicação para que haja mais igualdade e respeito. Mesmo no MPF, instituição vocacionada à defesa das questões de gênero, há discriminação, ainda que disfarçada, que precisa ser por nós combatida. Nossos objetivos são os mesmos, ainda que maior nossa complexidade. 

Nossa capacidade é a mesma, mesmo tendo licença maternidade. Nosso maior sonho... É grande e ao mesmo tempo singelo: podermos ser nós mesmas, sem que sejamos objeto de julgamentos, de comparação e de condenação. Sem que sejamos obrigadas a baixar a cabeça, se não nos encaixarmos no padrão. Sem que tenhamos que ser mais que os homens para ocupar espaços importantes na nossa Instituição. 

Cristina Melo (Diretora de Eventos): Menos confete, mais dignidade. No dia em que relembramos os pleitos por respeito e isonomia de gênero, permito-me parar os afazeres da atividade ministerial para refletir. Estamos celebrando hoje o Dia da Mulher multitarefas, sensível, competente, sagaz, boa mãe, profissional de destaque, brilhante! Bem, talvez não. 

Em verdade, o mito da multimulher, perfeita e boa em tudo o que faz também é (mais um) estereótipo. Mais uma simplificação para tentar entender o “diferente”. Percebo, assim, não por acaso, que a visão desse “diferente” parte de um interlocutor masculino. Que tal ter outro ponto de vista? Sim, somos profissionais singulares mas, nem por isso, deixamos de ter deficiências. Sim, nossa sensibilidade materna é belíssima, mas nem por isso deixamos de ter medos e falhar no enfrentamento diário desses medos. E é claro que também fazemos compensações e elegemos prioridades. 

Invoco hoje menos cobrança, incentivo, festejo e atenção à essa multimulher inexistente e proclamo tal data a minha data de discordar, lutar e encarar a realidade das mulheres (tantas) que são subjugadas apenas por serem mulheres. Não preciso nessa altura falar que digo respeito ao ... número de mulheres mortas por ano em razão de violência doméstica, ao ... número de mulheres estupradas por ano e questionadas quanto a se não deram ou não causa a tal violência, ao ... % a menos que as mulheres ainda recebem em relação aos homens ou mesmo (falta-me fôlego no extenso rol) ao reduzidíssimo número de mulheres participando das tomadas de decisão nas grandes instituições. Vamos falar disso? Vamos falar do que fere, dói e incomoda? 

Incito essa reflexão interna e convido todos, todas, tod@s a fazer o mesmo, pois entendo que perceber esse “diferente” com um olhar menos assimétrico, impositivo e opressivo é um passo imprescindível para alcançarmos uma sociedade mais justa. Que tal começar HOJE? 

Zani Cajueiro (Diretora Cultural): Não quero assistir, estática, ao uso do espartilho institucional, que me coloca no padrão esperado, mas me tira a respiração. Quero opinar com firmeza, sem ser chamada de autoritária. Não quero o salto alto que me deixa da altura dos homens, pois não quero ser igual, quero ser Salgueiro, quero ser “apenas diferente”. Não me basta a metodologia ortodoxa de trabalho, pois preciso de tempo para criar meus filhos e auxiliar na criação de tantos outros órfãos da sociedade. E não falo só dos pequenos, falo dos médios, falo dos grandes. Não basta ser uma, tenho que ser muitas, multidisciplinar, multitarefa, multimulher. Quero ser crime e cível, tutela e patrimônio, mulher, amante e mãe. Quero um mundo melhor, e que eu seja, se não fundamental, ao menos mais uma a lutar p or isso. Sou mulher e sou MPF.

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