Pedro Jorge de Melo e Silva e Alfredo Falcão Júnior nunca se conheceram. E nem teria como. O segundo nasceu em 1981, um ano antes de o primeiro ser brutalmente assassinado a tiros. Uma morte encomendada decorrente das investigações que realizava sobre um forte esquema de corrupção no país. Entretanto, as histórias de vida desses dois homens acabaram concatenadas. Coincidência ou predestinação?
Foi durante a fase escolar, mais especificamente ao longo do Ensino Colegial (atual Ensino Médio), é que o, hoje, procurador da República Alfredo Falcão Júnior soube da existência de Pedro Jorge.
“A primeira estátua dele está numa praça em Olinda, no centro da cidade, em frente a uma parada de ônibus, uma parada de grande circulação de pessoas, onde eu sempre passava na adolescência quando voltava do colégio. Curioso, já tinha procurado saber a quem ela fazia referência, quem era aquela pessoa que estava sendo homenageada”, relembra.
Quatro décadas depois, o então adolescente escolheu o Direito, ocupou os bancos da mesma instituição de ensino onde Pedro Jorge estudou – Universidade Federal de Pernambuco - e aprofundou-se na trajetória do homenageado. E foi além. Passou a integrar o Ministério Público Federal, tornou-se procurador-chefe da Procuradoria da República em Pernambuco, exerce a mesma função e trabalha em defesa da ordem jurídica e dos interesses da sociedade, assim como fez Pedro Jorge. Contudo, constrói a própria história num ambiente diferente, com mais proteção, num MPF que representa uma nova era da instituição, fortalecida, infelizmente, após uma tragédia.
“Talvez se fosse só um procurador da República assassinado não tivesse uma repercussão tão grande. Se talvez fosse só um procurador da República assassinado no exercício da função talvez a repercussão fosse um pouco maior. Mas foi o assassinato de um procurador que estava na época da ditadura, cuidando de um dos maiores escândalos do país. Um procurador encorajado, engajado no trabalho, ameaçado de morte e, morto de repente, de uma forma brutal, traiçoeira, sem chance de defesa. Todos esses fatores se somaram para que a figura dele fosse de fato relevante a ponto de promover uma reflexão nacional sobre a vulnerabilidade que aqueles agentes públicos, agentes do Ministério Público Federal estão sujeitos, sobre a vulnerabilidade do próprio processo criminal de Justiça, a vulnerabilidade das pessoas vítimas da corrupção, a vulnerabilidade do nosso país no sentido de que a falta de punição das pessoas parecia como algo acabado sem chance de reversão. A gente pode falar sim que o Ministério Público Federal foi pensado antes e depois do Pedro Jorge”.
O monumento em Olinda, deteriorado pelo tempo, permanecerá onde está, porém, uma nova estátua será inaugurada nos próximos dias em frente à Procuradoria onde Pedro Jorge atuou durante anos em diversos processos, em especial, naquele que ficou conhecido como o “Escândalo da Mandioca” – um esquema de desvio de crédito agrícola em Pernambuco. Mais uma vez o local escolhido para imortalizar o procurador e seus feitos foi uma praça pública, um espaço de todos.
“Quando a gente coloca um bem público num determinado espaço ele cria a sua própria história. A sociedade pernambucana ficou muito orgulhosa pela forma com que Pedro Jorge encarou o que ele tinha que cumprir, no sentido de que em nenhum momento ele tangenciou ou minorou aquilo que ele achava importante. Pelo contrário, ele foi até o fim, mesmo que isso resultasse, como resultou, no sacrifício da sua própria vida. Essa coragem é o que liga a história de Pedro Jorge a esse sentimento popular de orgulho com a figura dele”, finalizou.