Semifinalista do Prêmio Oceanos de 2021, a obra "Maria Altamira" foi tema de conversa com a autora, Maria José Silveira, em live realizada na tarde de sexta-feira (22), pelo XXXVII Encontro Nacional dos Procuradores da República (37º ENPR). O romance, lançado em 2020, narra a trajetória emocionante de mãe e filha em diferentes locais do Brasil e suas experiências em meio a conflitos agrários, ambientais, a falta de moradia e a miséria do povo da Volta Grande do Xingu.
O debate contou com as presenças de Maria José e da procuradora da República Thais Santi Cardoso, além da diretora de Eventos da ANPR, Manoela Lins Cavalcante, responsável pela moderação.
Tendo como pano de fundo a construção de Belo Monte, o romance traz a trajetória emocionante de mãe e filha. Manoela iniciou o debate indagando sobre a relação de Thaís e Maria José com Altamira. “O currículo de vocês mostra uma realidade diferente de Altamira. O que levou vocês a ter esse laço tão profundo com Altamira?”.
A escritora revelou que tudo começou com as reportagens que abordavam a construção de Belo Monte. “Eu sou uma escritora muito interessada em temas que considero importantes para entendermos o país onde vivemos. Além disso, sou antropóloga. Esse meu interesse pelos indígenas sempre me acompanhou, ainda mais nesse contexto em que eles estão ameaçados de extinção. Absolutamente incompreensível como depois de 500 anos, eles continuam sendo tratados como cidadãos de segunda categoria. Foi por esse caminho que cheguei em Altamira”, disse Maria José Silveira.
Para a procuradora Thais Santi, falar de Altamira é falar da Amazônia. “Minha trajetória aqui começou no ambiente acadêmico como professora de Filosofia do Direito. Me forcei a me aproximar da prática por meio do MPF. Em Altamira, encontrei um campo fértil para pensar as referências que eu tinha de um estado totalitário.”
Thais falou da sua vivência na região e os desafios que enfrenta no decorrer do seu trabalho no MPF. “Para mim, não há belo em Belo Monte. Em 2016, houve uma audiência pública sobre saneamento básico que deveria ter sido feita em 2010. A empresa se negou e a cidade entrou em colapso. O vereador disse que havia se arrependido de acreditar que as obras seriam o melhor para a cidade. Eu interrompi a discussão e lembrei que essas políticas públicas já tinham que existir independentemente de Belo Monte. Assim, a importância do MPF nessas regiões se faz mais necessária ainda. Não é um progresso, é um colapso”, apontou Thais.