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Live discute presença de mulheres negras em espaços de poder

O Projeto Identidade promoveu, nesta quinta-feira (24), um evento virtual para tratar da importância do feminismo negro. Participaram Anielle Franco, que é diretora do Instiuto Marielle Franco, Ana Paula Gomes, coordenadora da Escola de Líderes da Educafro, e os procuradores da República Julio Araujo e Manoela Lamenha. O projeto é uma parceria da Associação Nacional dos Procuradores da Repúbica (ANPR) com a Fundação Pedro Jorge e a Educafro.

Anielle Franco realizou palestra sobre o tema, na qual defendeu que na luta pela participação feminina em todos os cenários é preciso valorizar movimentos existentes e nomes já consagrados e de representatividade na causa. Ela citou mulheres como Sueli Carneiro, Matilde Ribeiro e Francia Márquez que são exemplos de perseverança pela igualdade de gênero no Brasil e no mundo.

“Todo preto é atravessado por um histórico de dor que precisa ser respeitado. A gente tem que ter o poder de falar, de escrever, de reivindicar, de não virar protagonista só quando a gente é assassinada com cinco tiros na cabeça, ou com bala perdida indo visitar a avó numa das favelas mais movimentadas no Rio de Janeiro, ou quando a gente é confundido com um bandido quando tá dentro de um carro, à noite, na rua, por ser preto ou preta”, foi taxativa.

Durante o bate-papo, Anielle citou a irmã por diversas vezes e lamentou o fato de que ao ser brutalmente assassinada Marielle Franco teve interrompido vários sonhos.

E por que tratar de feminismo negro e não apenas do feminismo? Esse foi o questionamento que a coordenadora da Escola de Líderes da Educafro-BR, Ana Paula Gomes, fez aos participantes no intuito de provocar uma reflexão a respeito da essência do debate. E para responder ela relatou uma realidade brasileira que não só coloca homens e mulheres em patamares diferentes, mas impacta numa desigualdade ainda mais violenta.

“É preciso falar de feminismo negro porque enquanto mulheres brancas lutavam pelo direito de trabalhar e ganhar seus salários, as mulheres negras, historicamente, já estavam trabalhando nas roças, nas lavouras de café, porque já tinham que sustentar a casa enquanto seus maridos morriam de açoite na época da escravidão. Enquanto muitas mulheres ainda estão no serviço como babá olhando o filho de outras mulheres, que hoje já conseguem ascensão, as nossas crianças pretas estão morrendo, estão na rua, na mira da bala. É preciso falar de feminismo negro porque enquanto a violência a mulheres brancas diminui, a mulheres negras aumenta”, repudiou a coordenadora.

Na última parte do encontro, os participantes fizeram perguntas às palestrantes. O diretor da ANPR, Julio Araujo, ressaltou a relevância do assunto e a importância de discutir a presença negra em espaços de poder. Já a coordenadora da ANPR Mulheres, Manoela Lamenha, fomentou a discussão ao apresentar números que comprovam a ainda tímida presença das mulheres na carreira. Atualmente, apenas 29% é composta por mulheres. E quando essa análise é feita sob a perspectiva racial, a gente vê que a representatividade feminina é ainda menor. Em 2019, o Comitê Gestor de Gênero e Raça do MPF fez uma pesquisa em que apenas uma procuradora se declarou negra e apenas 8% se declararam pardos. É uma carreira ainda majoritariamente branca e masculina”, lamentou.

Confira o debate na íntegra: 

https://www.youtube.com/watch?v=E8iKOXIeVdU

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