“Eu gosto muito deste time. Eu sou a camisa 11, mas queria ser a 10”, conta sorridente e empolgada a atleta Yasmin Ferreira, 7 anos, ao admirar o uniforme novo doado pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e pela Fundação Pedro Jorge (FPJ). A entrega foi, na sexta-feira (10), no campo de futebol onde ela treina com a equipe, na Vila do Boa, em São Sebastião (DF).
Yasmin não é a única a vibrar com o presente. A campanha Natal Solidário da ANPR e da FPJ garantiu a entrega de 100 kits - camisa, calção e meião, para crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade, atendidos pelo projeto Rede Gol, que desenvolve atividades socioesportivas e educativas em 14 localidades do Distrito Federal. A aquisição do material foi possível por meio dos valores doados por associados, familiares e amigos.
A vice-presidente da ANPR, Luciana Loureiro, avalia a iniciativa como uma experiência transformadora. “Quando a gente vê de perto entende a dimensão do que fazemos, isso nos aproxima das realidades que queremos mudar e nos lembra da responsabilidade social que temos, mesmo sendo uma entidade que representa interesses corporativos”.
Para o diretor-geral da Fundação Pedro Jorge, Alexandre Camanho, “foi uma grande alegria participar desta campanha, tão alinhada aos princípios de responsabilidade social adotados pela FPJ”.
Numa rápida conversa com os jogadores foi nítido perceber que a iniciativa representou muito mais do que um novo visual nos jogos. A entrega deu a sensação de pertencimento, aumentou a autoestima e foi um combustível na busca pela realização dos sonhos.
“Os uniformes chegaram na hora certa. Estávamos com competições próximas e não tínhamos a quantidade certa, principalmente para as meninas”, comemora o técnico José Orlando da Silva, que atua há mais de quatro anos no projeto. “Agora, dá para todo mundo participar com mais igualdade. Isso anima a gente, anima os alunos. Só de contar para eles já vi o brilho nos olhos”, complementa ao também se sentir presenteado.
O gramado virou uma arena de alegria. Elisa Maria da Silva, 11 anos, segurou com cuidado a camisa nova. “Achei muito bonita. É da minha cor favorita”, disse ao revelar que se inspira na jogadora Marta e foi firme ao pedir um basta nas barreiras impostas às mulheres no esporte. “Nem todo mundo dá valor ao futebol feminino. Isso precisa mudar”, cobrou a aspirante a profissional dos campos.
Enquanto isso, Arthur Araújo, 9 anos, virou o centro das atenções ao ganhar não só o kit, mas também o sorteio de uma bicicleta. Apelidado pelos amigos de "Neymar do time", ele poupou as palavras. Com um sorriso espirituoso expressou a alegria.
O sentimento não foi diferente entre os pais que acompanharam a entrega. Eles expressaram o significado dos uniformes, que vai muito além do campo.
"Muita gente pode achar que é só uma roupa, mas isso faz diferença. Anima, ajuda a identificar o time e, o mais importante, tira eles da rua. Eles vão da escola pro treino, do treino pra casa. Quem sabe daqui não sai um craque?", relata emocionada Sara Regina Santos, mãe de três alunos do projeto.
“Quando uma criança de periferia recebe algo bom, como esses uniformes, é um resgate de cidadania. Não é só estética, é sobre dar a elas o direito de ter algo de qualidade, algo que as faça sentir orgulho. A parceria entre a ANPR e a Rede Gol não se encerra. Há muito a ser feito. Temos muitas comunidades para atender, muitos sonhos para apoiar. Com a ajuda de iniciativas como essa podemos continuar fazendo a diferença”, comemora Deiza Medeiros Leite, presidente da Rede Gol.
O projeto funciona desde 2012 com ações que levam esporte, educação e cidadania a mais de mil jovens. Os núcleos na Vila do Boa, em Ceilândia e na Candangolândia foram, até agora, beneficiados pela campanha da ANPR e da FPJ.
A cada entrega de uniforme a revelação de planos e a esperança de realização de um sonho. "Eu quero jogar no Flamengo", afirma Yasmin, com pouca idade, mas com grande convicção.