Notícias

“Não dá para ficar só na dor”, dizia Daniela Poppi

A procuradora da República Daniela Poppi não resistiu à batalha contra o câncer e faleceu esta semana. Em homenagem póstuma, a ANPR conta parte de sua história

“Quando a gente passa por uma luta, não pode ficar focado só no lado negativo. A gente tem que levantar os olhos, olhar para os lados e ver que Deus está dando muita coisa boa pra gente. Não dá para ficar só na dor.” A mensagem da procuradora da República Daniela Pereira Batista Poppi, revelada durante uma entrevista ao programa Impacto Rosa, reflete a maneira como ela passou a enxergar a vida após descobrir um câncer de ovário em 2013.

Daniela Poppi faleceu na última segunda-feira (26), aos 44 anos, deixando o marido e um filho de 10 anos. Natural de Franca (SP), Daniela atuava na unidade do MPF no município desde 2006. Após passagem pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, ingressou no MPF em 2004, quando foi designada para trabalhar em Belém. Em 2005, exerceu o cargo em São José do Rio Preto (SP) e, no ano seguinte, passou a atuar na cidade natal.

Durante a entrevista ao programa, exibido em setembro de 2014, Daniela, até então curada da doença, contou de onde tirou forças para lidar com o tratamento. “Há um ano, vivia normalmente a minha vida, trabalhava, passeava, me exercitava e comecei a sentir uns sintomas. Fui ao médico e achava que era coisa à toa, mas fui diagnosticada com câncer de ovário. Pra minha surpresa, já estava em estado avançado, tinha metástase”, contou na época, período em que retornava às funções após um ano de afastamento.

Para Daniela, a notícia foi aterrorizante, pois ela havia perdido a mãe com câncer de pâncreas dois anos antes. “No primeiro momento, fiquei completamente perdida. Aí, um amigo que mora nos Estados Unidos gravou uma mensagem que dizia assim: olha, Daniela, eu não vou te dizer nada, só vou ter dizer qual é o versículo que dirige a minha vida: 'porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita; e te digo: não temas, eu te ajudo (Isaías 41:13)'. Depois dessa palavra, tudo mudou pra mim. Eu pensei, se Deus me ajuda, então vou enfrentar”, comentou.

De família humilde, Daniela estudou em escolas públicas e se formou na Faculdade de Direito de Franca, com pós-graduação pela Universidade Lusíada (Porto, Portugal). À mãe, ela atribuía o sucesso nos estudos e a carreira de procuradora da República. “Quando entrei na faculdade, e logo percebi que queria seguir uma carreira jurídica, ela disse que ia fazer de tudo para eu conseguir. Estudei durante cinco anos depois de me formar. E, o cargo que estou hoje, ela foi uma das que mais me incentivou. Eu falava que era um concurso muito difícil e ela respondia 'pra Deus, não é impossível. Você vai lutar, estudar e conseguir'”, lembrou a procuradora durante a entrevista.

“Atuamos juntos no Estado de São Paulo e sua atuação sempre foi combativa. Era uma pessoa dedicada ao trabalho e à instituição. Mesmo com problemas de saúde, ela não deixava de trabalhar, fazer processos”, diz o procurador da República Thiago Lacerda Nobre (PR/SP). Lacerda lembra que foi Daniela quem começou no MPF a coibir fraudes no programa Farmácia Popular do Brasil. Em 2011, ela processou 15 pessoas para que devolvessem R$ 2,7 milhões aos cofres públicos por desvios de recursos do programa.

Outro caso de repercussão nacional foi em 2009, quando ela comandou a Operação Quilate, que desmantelou uma organização criminosa que atuava no comércio ilegal de pedras preciosas em Franca. Após dois anos de um aparente controle da doença, o câncer retornou com mais agressividade e a procuradora se afastou novamente das funções em dezembro de 2017. Sempre que conseguia, retornava ao trabalho para cumprir a função para a qual ela dizia ser  destinada.

Assista aqui a entrevista de Daniela Poppi no programa Impacto Rosa, em setembro de 2014

logo-anpr